Cerveja artesanal, licores, enchidos, queijos, doces, vinhos, hidromel e muito mais... Na Feira de Sant’Iago há uma rua que encurta os 460 quilómetros que separam Setúbal de Mirandela, o mesmo é dizer as ostras das alheiras. É a Rua dos Produtos Regionais, de paragem obrigatória num passeio pela feira.
A primeira paragem é na banca da I Love Setúbal, marca que José Francisco, setubalense de 42 anos, criou há poucos anos e entretanto se expandiu para as I Love Troia, I Love Palmela e Riversado. Cumprindo o “objetivo de divulgar Setúbal”, ali se vende um pouco de tudo, desde licores de creme de arroz doce e de ginja a hidromel, passando pelo recentemente lançado Licor Setubalense - à prova em copos de chocolate. Para levar de recordação ou oferecer a amigos de outras bandas vendem-se também t-shirts, ímanes, crachás e todo o tipo de merchandising alusivo à cidade do Sado.
Do Sado à Arrábida é um passo curto e assim se chega ao stand da Casa do Arrabidine, pela primeira vez na Feira de Sant’Iago. A marca especialista em licores foi criada por Emídio Fortuna há 70 anos – conta o responsável comercial Pedro Amado – e hoje comercializa quatro referências. São elas o Arrabidine branco e tinto, o Bicabagaço e o Gingeira. Tudo feito com produtos endógenos da Arrábida, como as bagas com que fazem o Arrabidine segundo uma receita antiga dos monges do convento. A produção, feita numa adega com mais de 300 anos recuperada em Quinta do Anjo (Palmela), dá-se a conhecer em pequenos copos de prova, e entre muitas curiosidades históricas contadas por Pedro.
Do Licor de Laranja de Setúbal reza também a História, e se ele voltou às bancas há que agradecer a André Lopes, setubalense que em boa hora decidiu recuperar a mítica bebida consumida “entre 1830 e 1970”. Hoje, tal como ontem, é feita com laranjas da região (Quinta da Várzea e Baixa de Palmela), nomeadamente com as cascas que dão “aroma, cor e sabor” ao licor, através de uma produção artesanal. Na feira, além de se poder comprar à garrafa pode-se provar em pequenos copos a edição de 2018, cujo rótulo mostra a Serra da Arrábida. O desenho muda todos os anos mediante votação popular.
E há doce mais popular que o doce de laranja de Setúbal? Francisca Fráguas, setubalense de 46 anos, não hesita em atribuir o mérito à pastelaria Abrantes – pela popularização dos barquilhos recheados com doce de laranja – mas hoje reclama para si também a originalidade das suas “ostras” recheadas com este doce. Não as tem na banca da Cegas Tradições (partilhada com a do licor), mas tem o doce em compota, feito a partir de uma receita “guardada religiosamente num caderno” da avó, que por sua vez a terá obtido a partir da receita que lhe chegou ligada às freiras da cidade. A produção conta também com o talento de Paula Carvalho e é feita num pequeno ateliê perto da Porta de São Sebastião, na Baixa. Fica o convite para lá ir.
Continuando o périplo pela Rua dos Produtos Regionais conhece-se ainda a marca Doceafectos, criada pelo marido de Maria Emília Coruche, pasteleiro, quando ficou desempregado há três anos. “Com 73 meti-me a fazer feiras com ele”, diz Maria bem-disposta, apresentado cada um dos doces. Entre tanta criatividade culinária, destaque para o Festasso (feito com coco, açúcar, moscatel, queijo de cabra, farinha, banha e flor de sal) e para o Visigodo (amêndoa, laranja e moscatel), que “atingiu 20 mil unidades em três anos”.
No desfile gastronómico da feira cabem ainda os queijos amanteigado, curado, de cabra, de mistura e de vaca da marca Sabor Serrano, criada por Luís Lopes, natural do Sabugueiro (Seia). E tudo o que é chouriças, alheiras e farinheiras da região da Serra da Estrela. O melhor mesmo é pedir uma tábua de queijos ou uma tábua mista para lhes tomar o gosto, sendo que vendem igualmente umas enormes sandes de queijo amanteigado e presunto.
Na banca do Fumeiro de Mirandela também se vende “material do bom: presunto, chouriços, queijos, salpicão e a famosa alheira”, alogia Tiago Fernandes com um sotaque inconfundível. As pessoas vão passando e vão parando, atraídas pelo bom aspeto das sandes de presunto e queijo da serra em pão chapata. “Até ver está a ser melhor que o ano passado”, diz o jovem, a vender pela segunda vez na Feira de Sant’Iago.
Já na banca Único - Adega Camolas, a bússola de sabores volta a apontar para Setúbal. Ali comem-se ostras do produtor sadino Découverte abertas na hora, com vinhos frescos da Adega Camolas. Uma parceria feita com a Único, de Cristina e José Marques, e que surge complementada com saladas de ovas, empadas, quiches e pratos vegetarianos pouco usuais numa feira deste género. Tudo feito por Cristina, que é chef de cozinha numa empresa internacional.
A oferta vínica da Rua dos Produtos Regionais passa ainda pela banca da premiada Adega de Pegões (Montijo), presente com 21 referências disponíveis em garrafa e a copo (tintos, brancos, reserva, espumante e moscatel). No stand da Feira de Sant’Iago, por sua vez, brilham os vinhos Malo Tojo branco, tinto e moscatel, da Malo Wines, e pode-se comprar merchandising alusivo à personagem Zé dos Gatos, a mascote da feira.
E para quem prefere cerveja, também as há. Este é já o segundo ano em que a Cerveja Sadina está presente com um stand próprio, onde vende quatro cervejas à pressão e seis em garrafa. “Da mais clara à mais escura, das mais forte à mais fraca”, têm-nas para todos os gostos, explica Filipe Coelho, sócio de José Rua nesta marca de cerveja artesanal criada em 2015, com Setúbal no coração.